Os quadrinhos Disney mensais em formatinho publicados pela Editora Abril tiveram um novo reajuste no preço de capa esse mês. É fato que todo produto comercializado mais cedo ou mais tarde acaba tendo seu preço reajustado. Não sou economista, mas resolvi fazer uma breve pesquisa sobre a evolução de preços dos quadrinhos Disney a partir de 1994.
Esse post inicia uma série de posts em que eu analiso uma revista específica, principalmente as que eu coleciono desde a infância. Usei o ano de 1994 como referência inicial, pois foi o ano em que ocorreu a última mudança da moeda brasileira, de Cruzeiro Real para Real, que entrou em circulação no dia 1º de julho daquele ano.
Uma história interessante a respeito da mudança de Cruzeiro Real para Real é que eu, aos 9 anos, já ajudava (não digo trabalhava porque existem os politicamente corretos de plantão) meu pai no trabalho. Apenas 2 horas por dia, horário cumprido certinho mesmo sem picar cartão, e recebia de mesada (salário) 30 mil cruzeiros. Quando houve a mudança, foi determinado que uma unidade de real (URV) era o equivalente a 2750 cruzeiros. Ou seja, R$ 1 = CR$ 2750. Portanto, ao converter CR$ 30 mil eu deveria receber aproximadamente R$ 11. Como eu era criança e não compreendi direito (ou talvez tenha compreendido muito bem) eu argumentei (bati o pé) que se eu recebia CR$ 30 mil eu deveria receber R$ 30. Como o patrão era meu pai (paitrão) ele aceitou e eu acabei tendo o maior aumento que já recebi na vida. De um mês pro outro meu salário passou de R$ 11 para R$ 30. Um aumento de 173%. Quem já recebeu um aumento desse?
Reajuste de preços - Revista Zé Carioca
A primeira publicação escolhida pra ter seus preços de capa analisados é a revista Zé Carioca. Dessa linha de títulos é o que eu tenho mais números, algo em torno de 200 edições.
O período que será analisado compreende os anos entre 1994 e 2018. Praticamente todos os meus números da revista Zé Carioca são desse período, mas não foi necessário pesquisar as revistas uma a uma. Usei o Inducks como fonte de dados. Após essa breve apresentação inicial do projeto, vamos aos números!
Analisando os números
É interessante notar, além dos valores, que a revista Zé Carioca era quinzenal na década de 90. Isso mesmo! Eram duas revistas por mês de 68 páginas. E como ainda existia produção nacional, a revista era de HQs inéditas. Bem diferente de hoje, não?
Zé Carioca #2003 - A primeira com a nova moeda como preço de capa.
Outro fato importante é que em um período curto de 2 anos houveram 9 reajustes no preço de capa. O plano Real foi implantado em 1994 e é considerado até hoje o plano que conseguiu controlar a inflação que até então atingia índices altíssimos. E isso não era ao ano não, era todo mês. Imagine a bagunça. Acredito que esses reajustes nos dois anos seguintes se devem ao período de estabilização da economia. Após o reajuste de 1996 o valor se manteve inalterado até 1999 que foi o ano em que surgiram as revistas fininhas de R$ 1,00.
Zé Carioca #2132 - A primeira das revistas fininhas que teve sua fase entre 1999 e 2005.
Coincidência ou não. Foi nessa fase que eu parei de comprar quadrinhos. Comprava raramente algum e voltei a colecionar apenas em 2013 em outra fase da vida. Tenho poucas revistas dessas fininhas que comprei em sebo nos últimos anos. Não posso afirmar com certeza sobre o conteúdo, mas pela pesquisa realizada acredito que sejam republicações. O formato permaneceu o mesmo, quinzenal e com 32 páginas até 2005, mas o preço de capa teve reajustes e quase dobrou chegando a R$ 1,95.
Em agosto de 2005 inicia-se a fase que perdura até hoje na Revista Zé Carioca. Ela tem 52 páginas e periodicidade mensal. O valor da primeira edição dessa fase foi de R$ 2,95 e manteve-se inalterado até 2012, quando foi reajustado para R$ 3,20. Esse foi o maior tempo sem reajuste de preço.
Zé Carioca #2290 - A primeira da atual fase com periodicidade mensal.
A partir de 2012 os reajustes tem sido regulares. Após o último reajuste de janeiro de 2018 o preço atual de capa da revista Zé Carioca é de R$ 4,90.
Zé Carioca #2440 - Janeiro/2018
Passados quase 25 anos, acho que os reajustes foram coerentes com a realidade do país. De R$ 1,40 (68 paginas) em 1994 para R$ 4,90 (52 paginas) em 2018. Já tive experiência do preço atual assustar quem não compra quadrinhos, ouvi algo como: "já está cinco reais um gibi?". Os gibis estão com preço maior, mas será mesmo que estão mais caros? Isso é assunto para o próximo post ou para os comentários.
A lógica do custo/lucro das editoras de quadrinhos me confunde as vezes, cito dois exemplos: a Pixel que tinha os gibis mais baratos nas bancas a poucos anos atrás, mas não conseguiu se sustentar e a Lorentz que relançou Dylan Dog em formato maior e com preço mais em conta, apesar de menos páginas, mas a estratégia foi tão boa que reacendeu o interesse da antiga editora que deixou de publica-la anos atrás reclamando das baixas vendas.
ResponderExcluirQuanto aos formatinhos, a Abril até tem mantido uma lógica mais coerente de preços e sem a concorrência de outra editora tentando tomar os direitos, pelo que eu sei.
Esses direitos que a Editora Abril tem de publicar quadrinhos Disney no Brasil devem ser bem amarrados mesmo. Nem a Panini, que publica Disney na Itália, se mobiliza pra tentar alguma coisa. No atual momento, prefiro que continuem na Abril.
ExcluirTambém fiquei surpreso com esse período sem aumento. Eu não comprava quadrinhos nessa época então não acompanhei. De 2012 pra cá os aumentos tem sido regulares. Acredito que, se a tendência prevalecer, eles vão segurar esse preço de R$ 4,90 até o começo de 2020 e aí reajustar para R$ 5,50.
ResponderExcluirExcelente análise José Sérgio Scalcon.
ResponderExcluirVlw! E obrigado pela visita!
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