quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Os Heróis de Walt Disney

Esse ano o Mickey completa 90 anos de sua primeira aparição. Encontrei um artigo interessante publicado na Itália em 2008 sobre o começo dos quadrinhos Disney e traduzi pra postar no blog. Fiz apenas algumas adaptações já que esse artigo originalmente foi destinado ao público italiano. É uma grande oportunidade de saber mais sobre os heróis de Walt Disney.

Os Heróis de Walt Disney


Em janeiro de 1930, nos jornais americanos, na seção de quadrinhos, apareceu um novo personagem que já havia se tornado famoso no cinema: Mickey Mouse. De fato, sua estreia ocorreu em outubro de 1928, quando, na tela do Colony Theatre em Nova York, o desenho animado Steamboat Willie, um filme muito divertido em que Mickey e Minnie apareceram, foi mostrado. Esse desenho (que foi o primeiro com uma trilha sonora) foi a linha de partida para o Mickey Mouse e também para o criador Walter Elias Disney (que logo mais assinaria Walt Disney), nascido em Chicago em 5 de dezembro de 1901. Nos anos anteriores ao início da grande guerra, Disney participou da Academia de Arte de Illinois e começou seu aprendizado como designer publicitário. A Primeira Guerra Mundial viu Walt Disney lutando na frente francesa nas unidades da Cruz Vermelha, com as mesmas tarefas que o escritor Ernest Hemingway teve na frente italiana.


Voltando aos Estados Unidos, ele trabalhou em publicidade e, em 1923, estabeleceu com seu irmão Roy o "Disney Brothers Cartoon Studio" que teve seu teatro no galpão da garagem. Os dois irmãos realizaram uma intensa atividade cinematográfica que não levou a resultados apreciáveis até 1928, quando Walt Disney, juntamente com seu colaborador Ub lwerks, criou um novo personagem que lembrou, muito remotamente, o Krazy Kat de Herriman e que, de acordo com as intenções dos autores, deveria ter sido chamado Mortimer Mouse. Foi sua esposa, Lian Bounds, que sugeriu que ele modificasse o nome do rato para Mickey Mouse. A estreia cinematográfica de Mickey Mouse abriu um futuro bem sucedido para os irmãos da Disney, confirmada imediatamente com a série Silly Symphonies (Sinfonias Ingênuas), que em 1933, com o episódio Flowers and Trees, obteve o primeiro dos treze prêmios do Oscar que Disney recolheu em sua longa carreira.

Como visto, Mickey entrou no mundo dos quadrinhos em janeiro de 1930, com a história intitulada "Mickey Mouse na Ilha Misteriosa", cuja publicação continuou seis dias por semana, até 31 de março de 1930. Essa primeira aventura, com o próprio Mickey Mouse como principal protagonista e com a companhia da delicada Minnie Mouse, foi feita por Walt Disney , Ub Iwerks e o Win Smith. Mickey Mouse, deitado no topo de um palheiro, estava lendo o volume autobiográfico do aviador Charles Lindbergh, ele sonhava em se tornar um aviador e constrói em sua fazenda um avião com o qual ele batia nos campos e acabou sendo levado por um vórtice de uma tempestade e foi parar a  milhares de quilômetros de distância em uma ilha misteriosa. Aqui a aventura foi dividida em uma série muito longa de episódios diários que viram Mickey perecendo perpetuamente, perseguido por canibais ou com a intenção de pescar ou caçar animais. Finalmente, em 29 de março de 1930, Mickey voltou para sua fazenda, entrando em uma roupa de lã espalhada para secar no gramado da doce Minnie.

Em 1º de abril de 1930, foi lançada a segunda aventura de quadrinhos de Mickey Mouse intitulada "Mickey Mouse in Death Valley" ("Mickey Mouse no Vale da Morte"), a primeira aventura autêntica em fundo amarelo, que viu caracterizar com mais precisão o caráter desse intrépido herói que acabou se tornando Mickey Mouse, o personagem de quadrinhos que reuniu todas as fraquezas e virtudes do homem americano. Neste episódio, Mickey Mouse ajuda sua doce Minnie a conquistar a herança deixada por seu tio, lutando assim, com a ajuda de alguns amigos (Horace Horsecollar, Horácio e Clarabelle Cow, que é Clarabela), contra uma gangue de oponentes liderada por Peg-Leg Pete (o famoso João Bafo-de-Onça) e Sylvester Shyster (Zé Ratão). 

Walt Disney contou com o talento e a habilidade de um novo colaborador da Walt, o famoso Floyd Gottfredson. Nesse ponto, as aventuras de Mickey Mouse se seguiram em um fantástico caleidoscópio de diversão, emoção, ritmo e novos personagens. Nos primeiros meses de 1931 foi a vez de Kat Nipp (o Gato Nip). Na segunda aventura de 1931, o cão Pluto fez sua primeira aparição, enquanto o fiel, brilhante e sábio Pateta (Dippy Dawg ou Dippy the Goof no início e depois simplesmente Goofy) será necessário aguardar a história "Mickey contra Wolf, o terrível bandido do oeste", publicada a partir de 29 de janeiro de 1933.

Em 1932, como evidência de um sucesso crescente, Mickey, além das tiras do jornal diário, também tinha quadrinhos coloridos nos suplementos de domingo e, no complexo das duas produções, começou a idade de ouro, caracterizada por histórias inigualáveis como: “Mickey Jornalista”, Mickey e o Monarca de Medioka, “Mickey Contra o Mancha Negra”, “Mickey na Idade de Pedra”, todas devido a Floyd Gottfredson e seus colaboradores. Novos personagens da Disney, como o Sr. Gloomy (Tristão - 1933), Sr. Squinch (Latrique - 1935), Einmug (Professor Tiraprosa - 1936), The Thantom Blot (Mancha Negra) e Chief O'Hara (Coronel Cintra) de 1939.

Mas, entretanto, uma nova família de personagens apareceu nas histórias de Mickey Mouse: foi liderada por Donald Duck (Pato Donald), que apareceu pela primeira vez em um desenho animado em 1934 e um ano depois em quadrinhos. Era o famoso, inimitável, irascível e simpático Pato Donald. No início, este progenitor da grande família dos patos tornou-se o companheiro de Mickey Mouse na história “Mickey Jornalista”. Ele se apresentou de forma muito diferente da forma como o conhecemos hoje: tinha uma cabeça muito menor, um bico pontiagudo longo e era magro. Quanto ao caráter, ele era combativo, obstinado, rancoroso e perturbador. Este primeiro Pato Donald, desenvolvido por Walt Disney e Ub Iwerks, logo mudou sua fisionomia e caráter.

No final de 1936, o pato foi assumido por um novo desenhista dos estúdios Disney, Al Taliaferro. Tornou-se mais redondo, com um bico muito mais curto e dois olhos grandes. Psicologicamente, tornou-se ainda mais lento e colérico. A evolução do personagem continuou no sentido de sua dependência cada vez menor de Mickey Mouse, de modo que já em 1936 Taliaferro iniciou a produção de tiras intituladas "As desventuras do Pato Donald. Os trigêmeos Huguinho, Zezinho e Luisinho (Huey, Dewey e Louie em inglês) são os sobrinhos do Pato Donald, filhos de sua irmã gêmea Dumbela Duck, que os colocou sob os cuidados do tio e nunca mais os buscou. A identidade do pai dos patinhos é desconhecida, nisso, Donald acaba sendo a figura paterna para os meninos.

Mas a Segunda Guerra Mundial interrompeu ou, pelo menos, retardou os projetos da Walt Disney Productions. Foi em 1947 que o projeto de Patópolis (Duckburg) retomou seu processo muito rápido. Tudo foi decidido com a passagem de um colaborador precioso da Disney da seção que forneceu a preparação de storyboards de desenhos animados para o departamento de quadrinhos. Era Carl Barks; ele começou a mudar novamente o personagem Pato Donald, que se tornou muito mais condescendente com os três sobrinhos. Então, um personagem após o outro, Barks colocou um tio, Tio Patinhas, um primo muito afortunado chamado Gastão, sua namorada Margarida, um amigo chamado Professor Pardal ao lado dele, inventor de profissão e uma avó, caipira irredutível, chamada Vovó Donalda. Entre todos esses personagens, o mais famoso, aquele destinado ao sucesso mais brilhante foi o Tio Patinhas, inspirado pelo protagonista do Conto de Natal de Charles Dickens, o avarento Ebenezer Scrooge. Na Brasil, o tio de Pato Donald teve sua primeira aventura, desenhada por Barks em 1937, publicada na revista Mickey #15 em dezembro de 1953 com “Um Natal Movimentado” (Christmas on the Bear Mountain, em inglês). Nas publicações seguintes foi adotado o título “Natal Nas Montanhas”. Nessa primeira aparição, o Tio Patinhas apresentou-se como uma figura solitária, grunhida, irritante e inefável. Uma apresentação bastante diferente da forma como o conheceríamos nas histórias seguintes: Patinhas, homem velho em seu roupão que se inclina cansado e encurvado sobre uma vara. Barks mais tarde relatou: "Natal nas Montanhas foi apenas minha primeira ideia para se criar um tio velho e rico. Eu o fiz muito velho e muito fraco. Descobri mais tarde que tinha que torná-lo mais ativo. Não poderia deixar um velho comum fazer as coisas que eu queria que ele fizesse".

Em histórias subsequentes, de fato, Tio Patinhas acabou revelando exatamente sua verdadeira personalidade: a de um milionário mesquinho, longe do velho e cansado, da qual a idade senil é denunciada apenas por um par de óculos e uma vara que ele usa como uma terceira perna. O principal objetivo de sua existência é o acúmulo de capitais imensos, o resultado de suas vastas propriedades espalhadas por todo o mundo e, juntamente com décadas de trabalho frenético iniciado como escavador de ouro no Velho Oeste. Se às vezes o Tio Patinhas pode parecer como um capitalista moderno que compromete seu dinheiro em investimentos fundamentados destinados também a uma função social distante, em geral seu clichê é o de um avarento autêntico que adora acumular e não gastar um centavo nem para si mesmo, muito menos para seus sobrinhos. O acúmulo de dinheiro acaba sendo um fim em si mesmo: seu único e grande prazer é encher os imensos armazéns com dinheiro e mergulhar nele.

"Eu gosto", são as palavras do Tio Patinhas, “nadar em dinheiro, como um peixe, cavando túneis como uma toupeira e jogar na minha cabeça como um banho”! As proporções de suas riquezas são fantásticas (para ele, o termo “fantastilhão” foi cunhado e somente com esta unidade de medida monetária pode-se fazer o cálculo de seus capitais) ao ponto em que são suas palavras: "Se eu perder um bilhão por minuto, serei arruinado em seiscentos anos!” Tio Patinhas se move em um mundo em que os sentimentos são muito pouco em face do dinheiro e luta habilmente pela supremacia: quando ele dá uma tarefa para o Donald, faz isso apenas por razões de economia, determinado a não recompensá-lo, mesmo com um centavo, mas ele o considera seu único herdeiro! Embora existam HQs em que ele considera deixar sua fortuna para os três sobrinhos-netos, Huguinho, Zezinho e Luisinho. Todos os seus esforços visam ganhar, mas, sobretudo preservar e proteger o seu capital.

Seus grandes inimigos são os ricaços Patacôncio e MacMônei, seu rival implacável, a bruxa Maga Patalógika que tenta roubar a moeda número um conquistada por ele (que parece possuir propriedades milagrosas) e também os Irmãos Metralha que sempre tentam assaltar a Caixa-Forte que é protegida por mil dispositivos eletrônicos e alguns canhões sólidos. Os Irmãos Metralha, que tem sucursais em todo o mundo, nunca conseguem realizar seus planos. Seus membros (todos regularmente mascarados e marcados por um número de série) são grandes atrapalhados e, além disso, são perseguidos por um grande azar.

As duas grandes histórias da Disney, a do Mickey Mouse e a de Pato Donald, mostraram uma validade considerável ao longo do tempo, mesmo que a do Pato Donald acabasse prevalecendo. Mickey Mouse, de fato, era o herói ideal perfeito da Disney; o Pato Donald, em vez disso, o anti-herói, a pessoa normal perseguida pela má sorte, pelos problemas econômicos cotidianos, pela sociedade. Ele carrega todas as frustrações do homem moderno e suscita uma simpatia instintiva que o colocou no topo do mundo dos quadrinhos.

Na categoria Mickey Mouse, depois dos anos dourados de 1930 a 1940, houve algumas boas notícias. Em 1947, por exemplo, Bill Walsh e Floyd Gottfredson deram vida ao Esquálidus, o ser estranho de corpo filiforme, da cabeça desproporcional, que vem do futuro. Na sua saia aparentemente apertada, são escondidas ferramentas e recursos de todos os tipos; ele dorme empoleirado em perfeita posição horizontal nas bolas da cama; Sua primeira aparição foi na história “The Man of Tomorrow”, publicada no Brasil pela primeira vez em 1952 com o título "0 Menino Prodígio". Esquálidus logo se juntou a um ser estranho (muito semelhante a um gato) chamado Pflip, capaz de dizer a verdade a qualquer um.

Uma novidade interessante dizia respeito a um dos personagens mais antigos de Mickey Mouse, o bom e sábio Pateta, que em 1942 se tornou o protagonista de suas próprias histórias, mas que nos últimos tempos até assumiu o papel de super-herói, impondo-se como o novo Superpateta dotado de superpotências e um ávido comedor de amendoim.


Hoje, os heróis de Walt Disney continuam a triunfar em todo o mundo e, em particular, na Itália, onde um grupo de roteiristas e excelentes desenhistas continuam produzindo muitas histórias com os personagens. No Brasil, a produção nacional de quadrinhos Disney está interrompida, mas a publicação está a todo vapor, com muitas novidades.

Fonte: https://comicsando.wordpress.com/epoca-doro/walt-disney/

6 comentários:

  1. Que texto maravilhoso. E que curioso o nome original do Bafo huahua

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  2. No início ele tinha uma perna de pau. Que bom que mudaram essa característica. O texto é ótimo. Encontrei por acaso e achei que seria interessante publicar em português.

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  3. ....No Brasil, a produção nacional de quadrinhos Disney está interrompida.....

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    1. Kkk pra não dizer outra coisa né, Marcelo. Essa é uma dar partes do texto que adaptei. Peguei leve porque é um texto pra cima.

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  4. Muito legal o seu texto adaptado. As vezes procuro na net uns filmes antigos p&b do Mickey e sua turma. Acredito que muitos estão curiosos com o que Abril vai apresentar pra comemorar os 90 anos de Mickey. Espero que seja mais do que um especial capa dura. Pelo que vejo, os italianos investem mais nas publicações Disney quanto a brindes e itens comemorativos afins, não desmereço a Abril, mas parece muito difícil ter um simples poster comemorativo numa hq comemorativa.

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    1. Acredito que isso se deva a leis vigentes em cada país. Aqui no Brasil é uma burocracia danada. Não é somente os custos de um brinde que tem influenciado nessa questão, infelizmente, mas concordo com você quando a um simples poster, é estranho mesmo que nem isso nos oferecem como extra.

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